Nessa semana vamos falar da música “Dormi na Praça” que fez grande sucesso em 2007 com a dupla sertaneja Bruno e Marrone. A música fala de um homem apaixonado que em total estado de abandono e desespero sai andando à noite pela cidade até que, exausto, deita e adormece em um banco de praça qualquer, que muito bem poderia ser a nossa Camerino, Catedral ou Tobias Barreto. Adormece e sonha com sua amada até ser acordado por uma autoridade pública para quem clama. Mas para quem não conhece ou não lembra, é melhor primeiro ouvir a música:
Pelo tipo de atuação, percebe-se que o chamado “guarda” tanto pode ser um policial militar como um guarda municipal uma vez que ao primeiro cabe atuar prevenindo crimes e ao segundo cabe a preservação do patrimônio do município, no caso, a praça. Dois pontos merecem ser abordados nessa música. Inicialmente sobre os motivos da abordagem? Segundo sobre próprio papel da polícia. Sobre os motivos da abordagem, ainda que superficialmente, podemos destacar dois, primeiro a necessidade de evitar que o indivíduo se torne vítima. Assim a abordagem tem por objetivo retirar o indivíduo de uma situação de risco potencial. O segundo motivo poderia ser o entendimento da ocorrência do crime descrito no art. 59 da lei de contravenções penais, ou seja o crime de vadiagem. Para quem não sabe, a Lei das Contravenções Penais determina prisão de 15 dias a 3 meses a quem se “entregar habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita”. Ou seja, é o típico crime de ser pobre já que se a pessoa tiver renda para manter-se poderá entregar-se à ociosidade, ainda que seja válido para o trabalho. Muitos defendem que esse crime seja revogado, tamanha a injustiça que representa. Mas lembre, quem define o que é crime não são os policiais, mas os Deputados Federais e os Senadores. Por fim, sobre o papel da polícia, percebe-se na música o reforço à imagem de uma polícia truculenta e arbitrária. Imagem tão injusta quanto seria a de dizer que todo cantor ou compositor é maconheiro. Mas além disso, fica clara a sensação de polícia como “pau pra toda obra”, ou seja, aquela com poderes para resolver todos os problemas após todas as tentativas e meios possíveis falharem. O personagem da canção implora ao guarda que não o deixe ficar sem a amada, que por motivos não revelados o abandonou. Da mesma forma como se clama aos policiais para atuarem quando hospitais, igrejas, famílias e demais instituições, por motivos também não revelados, abandonaram determinados indivíduos.
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